No longínquo ano de 2013 escrevi o artigo CSS on Steroids que é muito sobre como escrever CSS de forma mais eficiente. Alguns anos se passaram e uma série de tecnologias nasceram, enquanto outras estagnaram.
A premissa do artigo original é apresentar alguns dos problemas mais comuns em folhas de estilo e sugerir soluções apoiadas no uso de pré-processadores e outras ferramentas como os pós-processadores. O plano aqui é revisitar as soluções e analisar novas estratégias de escrita de código. Conhecer as principais funcionalidades dos pré-processadores de CSS é pre requisito para esta leitura.
Os pós-processadores são utilitários difundidos e apoiados principalmente pela ferramenta PostCSS. A ferramenta permite a escrita de plugins em JavaScript que podem ter acesso ao seu código CSS e aplicar transformações ou validações. Ao longo do artigo aprofundaremos mais o assunto e veremos alguns exemplos de plugins e sua aplicação.
O que é apresentado a seguir tem base em projetos que vivenciei e portanto são frutos de algumas das minhas experiências. Cada projeto e equipe constituem seu próprio contexto e, como sempre, algumas coisas (ou até mesmo tudo) podem não se aplicar em sua integridade.
Variáveis de código: cores e medidas
Medidas e cores normalmente são os maiores causadores de ruídos em uma folha de estilo. Interpretar as cores ou decifrar a relação entre medidas apenas batendo o olho no código não é tarefa fácil. As variáveis dos pré-processadores são de grande ajuda, veja abaixo um exemplo consolidando práticas apresentados no artigo original.
$site-width: 960px;
$site-gap: 20px;
$speaker-list-width: 400px;
$grey-color: #3F4955;
$main-color: $grey-color;
body {
width: $site-width;
}
.header {
width: $site-width - $site-gap;
}
.speaker-list {
width: $speaker-list-width;
border: 1px solid $main-color;
}
.speaker-list__item {
width: $speaker-list-width / 2;
}
Alguns editores já possuem plugins para facilitar a interpretação das cores hexadecimais. Mas é importante ponderar a necessidade de cada variação de cor ao consolidar arquivos de layout vindos do Photoshop, Sketch e demais ferramentas. Um novo aliado é o utilitário de pós-processamento CSS Colorguard que identifica variações desnecessárias de uma mesma cor.
De qualquer maneira, variáveis com cores ainda auxiliam muito na tarefa de manter o controle sobre as cores utilizadas no projeto. Possuir um único arquivo no projeto contendo todas as cores ajuda a construir um projeto mais enxuto e organizado, o que facilita alterar ou replicar componentes.
A não ser que você esteja escrevendo o sucessor do Twitter Bootstrap, arquivos imensos cheios de variáveis que tem seu valor acessado uma única vez e que são associadas a componentes e especificidades do layout não fazem sentido. Arquivos como este apenas dão trabalho de manutenção e podem criar uma falsa impressão de flexibilidade ao projeto. Poder alterar as características de um componente é mais fácil quando existe um único arquivo para cada componente responsável por toda sua estilização.
Por outro lado, variáveis são úteis quando componentes do projeto estão relacionados e precisam compartilhar determinado valor. Lembrando que casos como estes devem ser evitados ao máximo por tornarem o código do projeto mais acoplado e dificultar seu reuso. Ainda, as variáveis podem ser utilizadas em escopos isolados de um componente para facilitar o entendimento de algum cálculo ou relação principalmente quando estiver lidando com medidas.
Abra mão de variáveis como $main-color
e $speaker-list-width
que criam indireção com pouco benefício. Abuse de variáveis como $dark-grey
, $soft-grey
e $grey
que garantem identidade ao projeto e também $width
facilitam o entendimento de algum cálculo em um escopo isolado. O exemplo acima revisado fica dividido em dois arquivos como estes:
// file: colors.scss
$grey: #3F4955;
// file: speaker-list.scss
@import 'colors.scss';
.speaker-list {
$width: 400px;
width: $width;
color: $grey;
&__item {
width: $width / 2;
}
}
Frameworks e mixins
Os maiores representantes desta classe são o Compass e Bourbon. Esta dupla já solucionou muitos problemas no passado. Porém o próximo passo é nos livrarmos destas tecnologias.
O motivo para nos livrarmos do Compass poderia ser o fato deste ser um projeto abandonado, mas existem outros mais. O Compass é um projeto muito generalista ao tentar gerar sprites, definir resets, trazer consigo alguns utilitários, incluir fontes e images e ainda gerenciar vendor prefixes. Existem soluções individuais muito melhores para cada um dos pontos que o projeto endereça:
Sprites: lembre-se que SVG está em alta, mas se mesmo assim precisar de sprites, vá de Spriteful ou spritesmith. Fazer uso do pós-processador postcss-sprites é uma ótima alternativa não invasiva que permite deixar de usar a técnica de spriting facilmente no futuro quando não mais necessária.
CSS resets: esta é fácil demais, basta rodar
npm install --save normalize.css
.Mixins: como Miller já apontou em The problem with CSS pre-processors, os mixins muito bem podem ser classes utilitárias dentro do seu projeto. Classes utilitárias também eliminam o uso de
@extend
.Vendor prefixes: Algumas propriedades do CSS passam por uma fase de adaptação e especificação e por causa disto ganham um prefixo com base no fabricante do navegador. Apesar de não ser aconselhado fazer uso de propriedades em fase de experimentação, muitos projetos aplicam gradientes até hoje da seguinte maneira
@include background(linear-gradient($blue, $light-blue));
. Os navegadores atualmente lançam versões com um frequência incrível e é comum ter definições de projeto do tipo: daremos suporte para as duas últimas versões do Chrome. Soluções de pós-processamento como o Autoprefixer são muito melhores pois não exigem estudar e lembrar de aplicar diferentes mixins além de não tornarem seu projeto escravo de um framework.Assets: o Compass possuía uma série de utilitários para cuida dos assets permitindo determinar tamanho de imagens, adicioná-las à folha de estilo através de Data URI (apesar da técnica já ter sido envolvida em algumas polêmicas) dentre outras features. Uma alternativa, se o projeto estiver utilizando a ferramenta para bundle Webpack, são os loaders css-loader, file-loader e url-loader que endereçam algumas destas features e ainda garantem cache busting. Na categoria de pós-processadores, o postcss-assets é uma boa alternativa para projetos que não utilizam Webpack.
Muitos dos argumentos que desencorajam o uso de Compass também se aplicam para o Bourbon. Em linhas gerais, fuja destas tecnologias. A excessão é que o Bourbon pode prestar muito bem para prototipações e como substituto do Twitter Bootstrap quando em conjunto com a tríade Neat, Bitters e Refills.
Nesting: agrupando regras
Agrupar regras de CSS na minha opinião é a feature mais interessante dos pré-processadores. Aplicar media queries localizadas e facilitar o uso do BEM são atualmente meus casos de uso favoritos.
O ponto do uso de nesting continua sendo tomar cuidado e sempre ter em mente a folha de estilo gerada para não extrapolar no peso dos seletores.
Utilitários de pós-processamento como postcss-modules e React CSS Modules também permitem manter o escopo dos componentes em um projeto. Tratando especificamente de postcss-modules, seu uso exige que seu HTML tenha relação com o CSS gerado, em outras palavras, seu projeto precisará no mínimo de uma template engine.
O React CSS Modules tem uma adoção mais simples para quem estiver em um projeto React e utilizando uma ferramenta de bundle. De qualquer maneira, soluções mais avançadas como estas parecem promissoras e merecem atenção.
Indo além com pós-processadores
Já vimos uma série de pós-processadores que podem ser aplicados ao seu workflow. O próximo passo, como você já deve imaginar é eliminar até mesmo os pré-processadores. O pacote PreCSS amarra uma série de outros pós-processadores que permitem substituir as principais features dos pré-processadores e ainda oferecer mais.
A grande vantagem dos pós-processadores é permitir facilmente escrever ou ativar novos scripts para experimentar alguma especificação CSS ainda em fase de rascunho e ou atender um conjunto de funcionalidades limitadas do SASS que são realmente úteis para seu projeto e equipe.
Conclusão
A experiência de reler o artigo original e ver o quanto a comunidade front-end evoluiu a maneira de utilizar e enxergar código CSS é incrível. A aposta em tecnologias mais específicas em desfavor das generalistas Compass, Bourbon e até mesmo SASS é uma grande tendência.
O Compass já é um projeto declaradamente extinto e investir em um workflow baseado unicamente em pós-processadores é a bola da vez. Minha aposta é que na próxima revisão eu não mais mencionarei pré-processadores.
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