Jean Carlo Emer

Este texto não se trata de uma introdução a Orientação a Objetos, para isto, este artigo da MDN serve melhor.

Tive o prazer de palestrar sobre os paradigmas do JavaScript no BrazilJS deste ano, este texto é um complemento com alguns insights sobre Orientação a Objetos e em especial: construtores.

Inspiração

Costumo sempre ficar de olhos abertos para sugar ao máximo o que diferentes linguagens e suas comunidades tem a oferecer.

Aprendi Ruby há alguns anos atrás. Na época, o que mais me chamou atenção era que quase tudo pode se comportar como um objeto, assim como no JavaScript. Fique tranquilo, minha intenção aqui não é fazer com que você aprenda Ruby, só usarei a linguagem por alguns parágrafos para defender um ponto.

Nossa inspiração será uma versão simplificada da principal classe responsável pelos models no Ruby on Rails.

class ActiveRecord::Base
  def initialize(attributes)
    assign_attributes(attributes)
  end
end

Considerando um model User, posso executar User.new(name: 'Jean') para instanciar um objeto. Neste caso, o método initialize acima é chamado e name é armazenado no objeto que acabei de criar.

O ponto chave: nenhum efeito colateral é ou deve ser desencadeado com a simples instanciação de um objeto. Esta execução, por exemplo, não salva este usuário no banco de dados ou o persiste de qualquer outra maneira que não seja como atributo do objeto recem criado.


Adicionalmente, nossa classe possui o método create. Este método pode ser chamado ao invés do new, que é o construtor padrão.

class ActiveRecord::Base
  def self.create(attributes)
    object = new(attributes)
    object.save
    object
  end
end

Como você deve suspeitar, User.create(name: 'Jean') instancia um objeto e o salva no banco de dados. Sim, agora temos efeito colateral, mas isto é claro pois tenho um método específico que possui este comportamento documentado.

Construtores ideais

O construtor ideal é aquele que não adiciona listeners de eventos ou elementos no DOM e muito menos dispara um alert. E é óbvio que isto não é tão simples e a maioria dos códigos não seguem esta regra.

Modelo

Vamos portar nossa inspiração para JavaScript na forma de uma das aplicações mais comuns (e detestadas) de vermos em websites: um carrossel.

function Carousel(container) {
  this.container = $(container);
}

Carousel.create = function (container) {
  var instance = new this(container);
  instance.init();
  return instance;
};

Carousel.prototype.init = function () {
  this.addEventListeners();
  this.startAutomaticTransition();
};

Note, a única função do construtor é armazenar o container utilizado como base para o carrosel. O método de instância init é que irá disparar o comportamento. Um exemplo de uso.

var productsCarousel = new Carousel('[data-carousel="products"]');
productsCarousel.init();

Temos outra forma de uso com o mesmo resultado. Repare que desta vez não usamos o operador new.

Carousel.create('[data-carousel="products"]');

Lembre-se sempre de tirar o máximo proveito da linguagem e definir seus métodos no prototype. Desta maneira, uma única função será criada e compartilhada por todas as instâncias do seu construtor.

Vantagens

A principal vantagem é poder instanciar um objeto sem precisar se preocupar com efeitos colaterais, este é o ganho.

Sem dúvidas, herança em navegadores modernos deve ser apoiada em Object.create. Mas para uma técnica compatível com todos os navegadores, o construtor a ser herdado deve ser instanciado no prototype do sub construtor. A maneira mais comum de se fazer isto é criando um construtor temporário para que o construtor herdado não seja executado. Com construtores sem efeito colateral, esta etapa não é necessária.

function CarouselWithLasers(container) {
  Carousel.call(this, container);
}
CarouselWithLasers.prototype = new Carousel();
CarouselWithLasers.prototype.constructor = CarouselWithLasers;

Viabilizar os testes é outra grande vantagem em não ter comportamento definido no construtor. Desta forma, fica possível aplicar stubs no método init para poder testar e ser feliz.


Na biblioteca Backbone, que é um dos cases mais fantásticos de herança em JavaScript que conheço, todos os construtores quando não extendidos podem ser instanciados sem efeitos colaterais. Isto vale para new Backbone.Model(), new Backbone.View(), new Backbone.History(). Pode experimentar, faça estas chamadas no console do seu navegador quando estiver acessando o endereço http://backbonejs.org

Um último detalhe é que, para as views do Backbone, a documentação incentiva o uso da propriedade events, que associa listeners na instanciação do objeto. Tem também o método this.listenTo geralmente usado no initialize, outro que é chamado na instanciação. Não digo que não devam ser utilizados, apenas aconselho que fique atento.


Edição 1: Chamar de create o método do construtor evita confusões e deixa mais clara qual a sua real função.

Edição 2: Incentivo ao uso do prototype como essência da definição de um bom construtor.